A Revista Proa de Antropologia e Arte circulou no início deste mês com o premiado ensaio fotográfico “Lugares de memória: pisando, apresentando e registrando o território quilombola do Bairro de Fátima”.
O trabalho concorreu - com outros sete ensaios - ao Prêmio Mariza Corrêa, organizado pelo Comitê Editorial da Revista e dirigentes da Jornada de Antropologia John Monteiro, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo.
A pesquisa fotográfica em Ponte Nova coube a duas personalidades: Rosângela Lisboa dos Santos, uma das mulheres diretoras do Grupo Afro Ganga Zumba, moradora no Quilombo Urbano do Bairro de Fátima; e Lívia Rabelo, antropóloga residente em Belo Horizonte, que em Ponte Nova desenvolve pesquisa há quatro anos e integra o Núcleo Irmandade Bantu, ligado ao Ganga Zumba.
Conforme relato de Lívia, a meta foi apresentar, via linguagem visual, a relação indissociável entre lugares e pessoas na citada comunidade quilombola. Efetivou-se, no ensaio, uma produção coletiva durante passeios guiados por lideranças locais que têm profundo conhecimento sobre o território e suas histórias: além de Rosângela, Pedro Catarino, Conceição Lisboa e Maria Aparecida da Silva Souza.
"Rosangela e Lívia registraram partes do território ativando memórias de quem vivenciou sua divisão do Quilombo Urbano nestes bairros: Fátima, São Pedro, Novo Horizonte, Palmeirense e Cidade Nova", continua o informe para esclarecer: "No final do século XIX e início do século XX, o local era conhecido como Sapé e abrigava ex-escravos das fazendas da região."
Informou Pedro Catarino no texto da Revista Proa: "O nome Sapé decorre do fato de a maioria das casas ser de estuque (paredes de barro, bambu e cipó) coberta por sapé. Por volta dos anos 1950, através de um decreto municipal e sem conhecer a história do local, transformaram o Sapé em Bairro Nossa Senhora de Fátima."
Pedro Catarino continuou: "Frente ao silenciamento e tentativa de apagamento dos saberes da comunidade, lideranças locais criaram em 1988 o Grupo Afro Ganga Zumba, cuja finalidade era preservar a história do povo negro escravizado no município. Pautado na noção de quilombo como espaço de sociabilidade, resistência e existência."
Conclui o relato da Revista Proa: "Este ensaio tem, portanto, um caráter político, ao contribuir para o não apagamento das memórias e histórias da comunidade, e antropológico, ao compreender as relações entre as antigas famílias locais, suas memórias ancestrais e os espaços que as compõem."